O estágio de desenvolvimento econômico de um país ou região pode ser avaliado, também, em função do número de atividades na área da inovação e criação de empresas, particularmente, de base tecnológica.
Ao longo dos séculos o Homem registrou períodos de extremo progresso e mudança. Porém, na segunda metade do nosso século, o conhecimento científico gerado bem como o progresso técnico ultrapassa tudo quanto se descobriu na história humana precedente.
Na linha desta revolução, geraram-se grandes mudanças econômicas e industriais em praticamente todo o mundo. E, conseqüentemente, mudanças nas estruturas econômicas de produção, distribuição e concorrência. A transferência de tecnologia para lugares distantes e a interligação das empresas no mundo inteiro criaram de fato um novo ambiente competitivo.
O investimento permanente em recursos humanos é hoje uma aposta fundamental que pode representar a diferença entre acompanhar a mudança ou ficar paralisado perante a competitividade dos mercados. Em economias abertas e competitivas, são os que investem permanentemente nas pessoas e no desenvolvimento de novos produtos/serviços e tecnologias que melhor enfrentam o choque das mudanças.
O sucesso de uma empresa num mercado global e competitivo passa, essencialmente, pela sua diferenciação em relação à concorrência. A globalização dos mercados trouxe novos desafios. Os empreendedores criadores de empresas de base tecnológica terão que estar atentos a esta tendência mundial.
Até há pouco tempo os economistas, na linha dos clássicos, explicava o desenvolvimento das nações como o resultado de três variáveis: mão-de-obra barata; matéria-prima abundante e capital disponível para investimentos. Hoje, sabe-se que existem duas outras variáveis, provavelmente mais importantes que as demais: a tecnologia e o "empreendedorismo" (o espírito empreendedor).
Ao criador de empresas de base tecnológica cabe o desafio de transformar idéias em produção. Para vencer esse desafio ele terá que descobrir algo que diferencie o seu negócio dos restantes.
Ainda que seja difícil definir o conceito de "empreendedorismo", os economistas reconhecem os empreendedores como indivíduos com visão, dispostos a arriscar o seu próprio dinheiro e o de outros investidores em novos produtos, constituindo-se assim como uma espécie de motor que combina o capital humano e físico, estimulando o crescimento econômico e o progresso.
Ser empreendedor significa ter capacidade de iniciativa, imaginação fértil para conceber idéias, flexibilidade para adaptá-las, criatividade para transformá-las em uma oportunidade de negócio, motivação para pensar conceptual mente, e a capacidade para ver e perceber a mudança como uma oportunidade.
A Delimitação do Objeto do "Empreendedorismo"
• A Perspectiva da Sociologia (MaxWeber)
O estudo do capitalismo tem sido objeto de enorme controvérsia, estando longe de produzir um consenso entre os estudiosos. O tema popularizou-se a partir do estudo do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) intitulado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicado em 1904-1905. Numa tese oposta à de Karl Marx, Weber concluiu que a religião exerce uma profunda influência sobre a vida econômica. Mais especificamente, ele afirmou que a teologia e a ética do calvinismo foram fatores essenciais para o desenvolvimento do capitalismo do norte da Europa e dos Estados Unidos.
Na ótica de Weber o “impulso para o ganho”, a “ânsia do lucro”, de lucro monetário, de lucro monetário o mais alto possível, não tem nada a ver em si com o capitalismo. Esse impulso existiu e existe entre empreendedores, médicos, artistas, prostitutas – quer seja em toda a espécie e condições de pessoas, em todas as épocas de todos os países da Terra, onde quer que, de uma forma, apresentou se, ou se apresenta, uma possibilidade objetiva para isso.
Na perspectiva de Weber o ganho ilimitado não se identifica nem um pouco com o capitalismo, e muito menos como o “espírito do capitalismo”. O capitalismo pode até identificar-se com uma restrição ou, pelos menos, com uma moderação racional desse impulso racional. De qualquer forma, porém, o capitalismo, na organização capitalista permanente e racional, equivale à procura do lucro, de um lucro sempre renovado, da “rentabilidade”. Só pode ser assim. Dentro de uma ordem econômica totalmente capitalista, uma empresa individual que não se orientasse por esse princípio, estaria condenada a desaparecer.
Weber propôs a tese de que a Reforma Protestante produziria uma verdadeira revolução, infundindo um espírito mais vigoroso em trabalhadores e empreendedores, que teria levado ao capitalismo industrial moderno.
Pode-se definir o "empreendedor" como alguém que está num negócio por conta própria; que organiza, administra e assume o risco da gestão do empreendimento.
Na introdução de "Inovação e Espírito Empreendedor", Drucker argumenta que os empreendedores são maravilhosos criadores de empregos. Observa que o emprego nas 500 maiores empresas americanas, tem diminuído continuamente desde 1970. E, no entanto, a economia do país apresentou um acréscimo líquido de 40 milhões de empregos, em apenas sete anos, muitos deles criados por companhias que não existiam 20 anos atrás.
Porém, a designação de "empreendedor" não pode ser aplicada a todo e qualquer indivíduo que inicia um pequeno negócio. Os empreendedores são pessoas que, simultaneamente, criam novos tipos de procura e aplicam novos e insólitos conceitos administrativos. Tanto podem estar ligados à iniciativa privada como às universidades, às autarquias, etc.
As grandes transformações da atualidade se refletem em mudanças na sociedade e no trabalho. A prosperidade de um país depende hoje mais do conhecimento do que do capital ou do trabalho. Esta realidade tem implicações profundas para os indivíduos que criam empresas, especialmente, empresas de base tecnológica.
Assiste-se, atualmente, a uma mudança radical na esfera da produção e da vida empresarial, em conseqüência do enorme desenvolvimento da informática e das alterações verificadas na componente social da empresa. Muitas tarefas foram suprimidas pelo computador; a mão-de-obra, em geral, tornou-se mais jovem e a participação cada vez mais ativa das mulheres obrigou à flexibilização nos horários. Faz-se sentir uma crescente necessidade de quadros especializados o que tem vindo a estreitar as relações entre a empresa e o sistema educacional.
As mudanças nos recursos estratégicos do capital para a informação, conhecimento e criatividade, são os fatores fundamentais que impulsionam a expansão empreendedora atual. Mas há outros. As organizações não oferecem mais a segurança de outrora.
• A Perspectiva Psicológica (McClelland)
McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard, é o autor da obra "The Achieving Society", na qual procura descobrir a razão pela qual certas culturas funcionam melhor do que outras. Os seus estudos levaram-no a concluir que a necessidade de realização, variável de cultura para cultura, era o elemento chave para responder à sua interrogação.
Constatou que umas culturas ensinavam que a luta era infrutífera, uma vez que o êxito ou o fracasso dependiam do destino; outras transmitiam aos seus membros a visão de que toda a pessoa podia controlar ou, pelo menos, influenciar o resultado da sua vida.
Ao estudar histórias infantis, em verso e em prosa, contos folclóricos e outras formas de comunicação social para a transmissão inconsciente de valores, a fim de recolher indicações sobre o nível de necessidade de realização, constataram que na cultura americana esse nível era extremamente alto.
A necessidade de realização leva os empreendedores a nunca pararem de trabalhar, sempre motivados pela necessidade de fazerem aquilo que gostam. Têm horários de trabalho que em geral ultrapassam as dezesseis horas diárias e, independentemente do dinheiro que tenham amealhado, entregam-se ao trabalho com o entusiasmo próprio de quem está a começar tudo de novo.
A necessidade de realização mobiliza o indivíduo para executar da melhor forma possível um conjunto de tarefas, que lhe permitam atingir os seus objetivos. Os objetivos podem ser competitivos; porém, o foco é sempre a execução perfeita das tarefas que, dentro dos limites éticos, permita superar os concorrentes.
O nível de motivação para a realização é usado por McClelland para explicar alguns aspectos do comportamento típico dos empreendedores:
extrema independência e autoconfiança e que pode levantar dificuldades para constituir equipas de trabalho;
fixação de elevados padrões de realização, o que pode torná-lo intolerante para quem defraudar as suas expectativas;
centralização das atividades e dificuldades na delegação de autoridade.
Além da necessidade de realização, McClelland também analisou a importância das necessidades de afiliação e de poder para suscitar o espírito empreendedor. A necessidade de afiliação traduz o desejo de se estar próximo das outras pessoas, compartilhar das suas alegrias, construir sólidas amizades, obtendo um bom relacionamento interpessoal. McClelland concluiu que essa necessidade, conjuntamente com a necessidade de realização, proporciona um poderoso impulso para alcançar os objetivos, através da interação e cooperação. Além disso, uma forte motivação para a afiliação inviabilizará o aparecimento de conflitos e confrontações. A necessidade de poder, por outro lado, traduz a tendência para dominar ou influenciar outras pessoas. Essa necessidade, quando acentuada, pode dificultar a tarefa de formar uma equipa empreendedora para arrancar com um negócio.
Resumidamente, McClelland identificou as seguintes características do Empreendedorismo: a) habilidade para assumir riscos; b) energia e/ou novo tipo de atividade instrumental; c) responsabilidade individual; d) feed-back sobre o resultado das decisões; e) mensuração dos resultados através do dinheiro; f) antecipação de responsabilidades futuras; g) habilidades organizacionais; e h) interesse por ocupações empreendedoras que envolvam risco e prestígio.
• A Perspectiva Econômica (Schumpeter)
Schumpeter insere o empreendedorismo na ótica da destruição criadora. Esta representa a principal característica do sistema capitalista na percepção de Schumpeter. Definiu-a como um processo orgânico de mutação industrial que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro. Este processo de destruição é, segundo Schumpeter, a característica essencial do capitalismo e a ele se deve o encerramento de fábricas e a eliminação de postos de trabalho, mas também dele deriva o imperativo dos agentes econômicos se adaptarem às mudanças tecnológicas e às preferências dos clientes.
Na visão de Schumpeter, o início de um processo de desenvolvimento econômico verifica-se no âmbito da produção, em conseqüência de acontecimentos que alteram profundamente os velhos sistemas produtivos. Estas alterações, que Schumpeter designa de inovações, prendem-se com a introdução de um novo produto ou de uma nova qualidade de um produto, com a implantação de um novo método de produção, a abertura de um novo mercado, a conquista de uma nova fonte de oferta de matérias primas ou de produtos semi-acabados e, finalmente, o estabelecimento de uma nova forma de organização de uma dada indústria ou setor.
Schumpeter chama ato empreendedor à introdução de uma inovação no sistema econômico e empreendedor ao que executa este ato. A empresa e o empreendedor são fatos específicos do desenvolvimento, inexistentes por isso no estado estacionário, no qual a direção da produção implica apenas uma atividade de rotina que não se distingue de qualquer outro tipo de trabalho. A inovação, na ótica schumpeteriana, não se deve apenas ao papel do empreendedor, mas também a fatos exógenos que galvanizam as mudanças econômicas, como seja o desenvolvimento tecnológico.
3. Caracterização do Empreendedor
• Perfil
A gestão das Novas Empresas exige o seguinte perfil do empreendedor:
Capacidade de Assumir Riscos: é a disposição de enfrentar desafios, de abandonar a vida relativamente segura de assalariado para experimentar os limites da sua capacidade, em negócio próprio. Saber enfrentar riscos é a característica nº1 do empreendedor. Depois de instalada a empresa, é preciso saber renovar os produtos e serviços. O avanço tecnológico, os costumes e comportamentos mudam e tudo isso pode afetar o negócio. É preciso arriscar o futuro para não ficar defasado. As recompensas estão associadas aos maiores riscos, que, bem dosados, garantem sucesso ao empreendimento.
Sentido de Oportunidade: enxergar oportunidades onde outros só vêem ameaças, eis a chave da questão. Importam identificar tendências, necessidades atuais e futuras dos clientes; chegar à frente com produtos e serviços novos ou diferenciados. Para isso, é necessário estar permanentemente ligado ao que acontece na sociedade, nos meios de comunicação, no setor em que a empresa opera. Há décadas, os ecologistas eram vistos como seres lunáticos. Hoje, a ecologia é marketing para qualquer negócio.
Liderança: capacidade de induzir pessoas, de usar o poder de influência para solucionar problemas. Delegar responsabilidade, valorizar o empregado, formar uma cultura na empresa, para alcançar o objetivo principal - a satisfação dos clientes. Flexibilidade, velocidade e competência. As armas da administração são a liderança e a participação. O dirigente deve ser um líder, alguém em quem todos confiam.
Jogo de Cintura: ser flexível, isto é, ter capacidade de reconhecer o que é melhor e, se for preciso, mudar tudo em busca da excelência: produtos e serviços, processos, métodos de trabalho e políticas empresariais, enfim, tudo quanto o necessário para ajustar a organização às expectativas dos clientes. O empreendedor deve entender o conceito de parceria nos negócios. Ganhar à custa de outros é uma atitude predatória. Reduz a possibilidade de ocorrência de outros bons negócios e traz o isolamento. Conceder aqui para conquistar ali é ter jogo de cintura. No processo de negociação todos devem ganhar!
Persistência:: definir e manter a direção das energias visando a atingir uma visão de sucesso. O caminho de um empreendedor até a estabilidade pode ser longo e difícil. Muitas vezes pode ocorrer a vontade de desistir. Para que tal não ocorra, a visão de futuro deve ser ambiciosa. Porém, é necessário estabelecer caminhos seguros que permitam tornar os sonhos realidades. Manter o rumo, é saber donde se vai e como chegar lá.
Visão Global da Organização: ver a organização como processo de satisfação das necessidades do cliente, em permanente interação com o meio onde atua. Para atender bem os clientes externos, é necessário que os clientes internos, empregados e colaboradores, estejam satisfeitos. A visão global requer perfeito entrosamento com fornecedores e uma política de boa vizinhança com a comunidade.
Atualização: aprender tudo quanto se relacione com o negócio, clientes, fornecedores, parceiros, concorrentes e colaboradores. Uma descoberta abre caminho para muitas outras e a conseqüência é o aperfeiçoamento. A observação do comportamento das pessoas, do que as preocupa, a convivência com outros empreendedores, o relato das suas experiências e opiniões, tudo isso importa e nos pode ensinar muito.
Organização:: ter sentido de organização é compreender que só se obtêm resultados positivos com a aplicação dos recursos disponíveis, de forma lógica, racional e organizada. Definir metas, garantir a execução conforme o planejado e corrigir os erros de forma rápida são essenciais para se obter o sucesso desejado. Os princípios da qualidade total, sistemas organizacionais modernos e reengenharia, são assuntos que devem ser conhecidos e praticados.
Inovação: cultivar idéias novas, algumas em fase de estudo, outras em vias de execução, é fundamental para o empreendedor de sucesso. O mais importante é transformar as idéias considerado viáveis em fatos concretos e dinâmicos, que possam garantir a permanente evolução da organização. O espírito empreendedor surge como necessidade imperativa para que a organização sobreviva aos novos tempos.
Disposição de Trabalho: ter sucesso na vida empresarial significa envolver-se com a organização em todos os sentidos, da forma mais completa possível, desde a fase da sua criação. Não basta simplesmente ser o dono. É preciso dedicação total. Brincar a ser empreendedor pode custar muito caro. Ser empreendedor é aceitar que o negócio faz parte da sua vida, que é um projeto a realizar.
• Formação
O empreendedorismo pode ser ensinado? Existe alguma formação capaz de gerar empreendedores? Estas questões têm gerado muita polêmica no meio acadêmico. Uns acreditam que o empreendedorismo é algo que nasce com o indivíduo - o desejo de ser independente e a ânsia de gostar de assumir riscos não poderiam nunca ser ensinados nas salas de aula. Outros contra-argumentam que o empreendedorismo é uma habilidade que pode ser aprendida através de um curso de economia, gestão ou engenharia.
O debate vai perdurar por muito tempo. Porém, os cursos de preparação de empreendedores já estão a ser ministrados, dos EUA até a China. É a resposta da comunidade acadêmica à pressão da sociedade para que sejam treinados indivíduos capazes de dar respostas mais rápidas aos problemas da falta de empregos e à criação de negócios de base tecnológica. Através desta aprendizagem os participantes têm a oportunidade de aprender técnicas que lhes permitam desenvolver o seu projeto empresarial, criar o seu próprio posto de trabalho. Nenhum curso, certamente, pode garantir, na fase atual da história do empreendedorismo que os indivíduos apetrechados com esta aprendizagem, sejam melhores empreendedores do que os indivíduos sem qualquer formação nesta área. No entanto, existem fortes indicações de que uma educação empreendedora produzirá mais e melhores empreendedores do que os que foram gerados no passado.
Uma formação em empreendedorismo deve fornecer instrumental que permita aos aprendizes:
1. descrever o papel do empreendedorismo e a sua contribuição para o desenvolvimento econômico do país;
2. perceber a importância das pequenas e médias empresas como geradoras de emprego e de riqueza;
3. ser capaz de aplicar modelos de tomada de decisão no seu dia-a-dia e ter conhecimento dos diversos tipos de habilidades e decisões necessárias ao sucesso do empreendedorismo;
4. reconhecer a necessidade de um processo contínuo de aprendizagem para a expansão do seu empreendimento;
5. identificar novas oportunidades de negócios e formas de ampliação dos mercados já existentes;
6. desenvolver um plano de negócio que inclua diversas componentes, tais como aspectos financeiros, produção, recursos humanos e marketing;
7. identificar e utilizar serviços de apoio de entidades voltadas para o fomento do empreendedorismo;
8. ser capaz de implementar estratégias de gestão eficazes.
sábado, 25 de dezembro de 2010
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