sexta-feira, 25 de junho de 2010

A ERA DO CONHECIMENTO

Ser empreendedor é uma realidade muito difícil de definir e enquadrar dentro de um arquétipo determinado. Ao empreendedor surge, ao longo de sua vida ativa, uma série de desafios e oportunidades, ante os quais terá de enfrentar e frente aos mesmos, em muitas ocasiões, as atitudes e estratégias a adotar, não estão definidas em nenhum manual de administração de empresas.
Com isto queremos dizer que não se pode falar de estilos específicos que se hão de adotar, diante de determinadas circunstâncias. De maneira semelhante no que se refere ao comportamento humano, hoje em dia as empresas, entendidas como uma complexa organização de interesses específicos, reagem e enfrentam os mesmos problemas com posicionamentos completamente diferentes.
Gostaríamos muito, ao longo deste texto, de trabalhar esta idéia. A gestão empreendedora, a atitude dos empreendedores ante o futuro de seus empreendimentos ou bem o estilo dos empreendedores, não podem ser definidas com uns critérios determinados, não podem cumprir requisitos específicos ou estar pautado em umas normas exigíveis de cumprimento. A atitude e o estilo dos empreendedores, frente aos seus negócios, é fruto da própria organização que dirigem e das qualidades pessoais de seus dirigentes.
Não obstante, há uma série de princípios que sempre devem estar presentes na gestão empreendedora, tais como a inovação, a internacionalização, a cooperação e uma participação mais ativa na sociedade. Vamos detalhar um pouco esta perspectiva.

Uma das primeiras atitudes, que a própria literatura econômica tem trabalhado com certa intensidade, é a de que o empreendedor é um inovador. Um economista austríaco, Schumpeter, analisou com profundidade o papel do empreendedor no desenvolvimento e crescimento econômico. Em sua análise, pontificou a necessidade da sociedade contar com empreendedores dinâmicos, capazes de assumir riscos para introduzir inovações nas suas empresas, através da melhoria dos processos de produção ou a introdução de novos produtos/serviços. Atribui-se ao “empreendedor inovador” um papel essencial na capacidade para criar a riqueza em um país.
Hoje em dia, o mundo que Schumpeter estudou vem sofrendo transformações e mudanças radicais. A globalização dos mercados de bens e serviços, principalmente, coloca as empresas perante uma realidade mutante e incerta, no longo prazo. Não obstante, o empreendedor segue, tendo de ser inovador para que seu barco vá em frente nessa grande maré que é a concorrência mundial.
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos/serviços, novos processos de produção e de gestão empresarial têm de ser uma tarefa constante. Nunca há de pensar que chegará a um porto seguro. O trabalho do empreendedor deve ser continuo e constante, porém com um ritmo necessário para que a sua organização possa, como um todo, assimilá-lo. E isto implica destinar esforço e recursos à pesquisa e à aplicação industrial da mesma, fomentando a capacidade própria da empresa para inovar, melhorando os canais de comunicação e colaboração com a Universidade.
As empresas têm que gerar inovação. Contudo, para isto é necessário destinar recursos e contar com o capital humano qualificado. Uma estratégia empresarial adequada tem que fomentar os investimentos em P&D como um objetivo isolado e contemplado em uns pressupostos determinados, senão como um custo, praticamente fixo, para a empresa. Todavia, não podemos dissociar a pesquisa em tecnologia da formação dos recursos humanos que significam atualmente o maior ativo de qualquer empresa. É necessário, em igual medida, um constante, contínuo investimento na formação e treinamento dos recursos humanos. A capacidade para inovar depende do indivíduo que está na predisposição de assimilá-la e difundi-la no processo de produção.
Em muitas ocasiões, os recursos investidos que estimulam a inovação requerem muitos milhares de reais, não estando ao alcance de muitas das empresas que compõem o nosso tecido empresarial. A dimensão da empresa tem muito a ver com a necessidade de estabelecer redes de cooperação entre empresas para o desenvolvimento conjunto de P&D. Portanto, é conveniente não exilar-se do exterior e colaborar com outras empresas para alcançar um objetivo comum.
Assim mesmo, o nível de investimentos requeridos para o desenvolvimento de novas tecnologias demanda, muitas vezes, a realização de projetos em conjunto com a Universidade, através da chamada transferência tecnológica, ou do patrocínio da pesquisa pura para que possa, a longo prazo, converter-se em aplicações industriais.

Em segundo lugar, o empreendedor tem que perceber o mundo como um mercado global. A proteção dos mercados nacionais e as reservas dos mesmos sob as condições de monopólios regulados são privilégios de épocas anteriores. A globalização das atividades produtivas e os processos (de)regulamentação econômica na maioria das economia desenvolvidas são realidades incontestáveis.
O empreendedor deve trabalhar com uma mentalidade aberta e ter a suficiente inquietude para não contentar-se com seu próprio mercado. Porém, isto só é possível com atitudes capazes de compreender e assimilar as diferentes culturas empresariais, aproveitando todos aqueles aspectos que delas se puderem atrair.
E esta atitude só é possível com empreendedores dispostos a implantar-se no exterior e romper uma dinâmica tradicional em nosso país: exportar quando o mercado interno apresenta dificuldades. Para que nossos produtos se consolidem nos mercados externos é necessário não só uma penetração constante dos mesmos, com o apoio logístico de centros de distribuição e comercialização, senão também a criação de empresas filiais no exterior, capazes de conhecer, com maior profundidade, nossos novos clientes.
As significativas mudanças, ocorridas nos últimos anos nos cenários políticos e econômicos, nos levam a uma profunda reflexão sobre seus impactos nas empresas. Se as relações econômicas estão neste momento dotadas de um dinamismo significativo e a competitividade exige esforços constantes para adaptar-se, é óbvio que a gestão empresarial não pode ser enfocada sob parâmetros fixos.
É necessária a introdução de novos, e quem sabe até a (re)introdução de antigos conceitos de gestão empresarial. Uma gestão flexível tem que presidir as ações das nossas empresas. Compete ao empreendedor perceber as transformações que se avizinham e antecipar-se às mesmas. E para tal performance, as atitudes de colaboração e participação prevalecerão sobre a hierarquia e disciplina rígida.
O capital humano nas empresas de base tecnológica, nas quais tem de existir um esforço de investimento continuo e constante através da formação continua e reciclagem, tem que participar e comprometer-se com o futuro da empresa. O Diário de Pernambuco vem apresentando, nos últimos dias, várias reportagens sobre este tema, enfocando empresas pernambucanas que estão obtendo sucesso via administração participativa, gestão da qualidade e participação nos resultados.

Por último, o empreendedor brasileiro cada vez mais tem necessidade de olhar o mercado externo, principalmente o mercosul, e ser (co) responsável pelo seu sucesso. A abertura, cada vez maior, da economia brasileira é algo incontestável. Como afetará esta nova realidade a competitividade de nossas empresas? Quais os tipos de mudanças que serão exigidas para fazer frente a estes novos desafios? São perguntas que têm de estar presentes nas preocupações e inquietudes de nossos empreendedores.
A sociedade brasileira tem que ser sensível à figura do empreendedor que investe, cria empregos e riquezas, apostando no potencial de nossa economia. Urge o respeito da sociedade pelo empreendedor comprometido com as mudanças, ativo nos mercados mundiais, cooperador e integrador de sua organização e partícipe de uma nova era econômica - a era do conhecimento - para que possamos alcançar o objetivo comum a todos: desenvolvimento, crescimento, emprego, distribuição de renda e prosperidade.

terça-feira, 15 de junho de 2010

POLO DE CONHECIMENTO E EMPREENDEDORISMO.

A produção científica e tecnológica no Estado de Pernambuco é um dos elementos impulsionadores do desenvolvimento econômico e social da região. É a alavanca responsável pela transformação da sociedade industrial para a socidade da informação.
O empreendedorismo não é uma receita, mas uma necessidade do mercado. A consolidação do Polo de Conhecimento de Pernambuco exige a presença de empreendedores inovadores.
O que basicamente diferencia um parque de ciência e tecnologia de um parque industrial é a criação de redes formais ou informais, entre os vários usuários e a ênfase constante na qualidade no seu âmbito mais lato. Por outras palavras, a componente soft (interação humana) deve ser privilegiada.
A sociedade de serviços está substituindo a sociedade industrial, a economia é cambiante e as especializações desaparecem. Por isso, a universidade não pode mais ser vetora de produtos acabados e sim formar empreendedores capazes de encontrar os nichos de oportunidades nessa nova sociedade, constata Carlos do Carmo da PUC-RJ.
As principais características observadas na formação de um parque tecnológico são: esforços cooperativos e o modelo tripartite governo, universidade e indústria é uma constante em praticamente todos eles, os recursos sempre bem inferiores ao necessário, a participação, cada vez mais intensa, dos governos municipais e estaduais diretamente na concepção dos projetos.
Os elementos de sucesso de um polo de alta tecnologia bem-sucedidos são: fontes de pesquisa e desenvolvimento, universidades vocacionadas para ciência, tecnologia e engenharia, institutos de pesquisa e desenvolvimento, política regional de desenvolvimento tecnológico e programas de inovação e de apoio às novas empresas, ambiente social, habitação de alta qualidade, cultura atrativa e oportunidades de lazer e clima propício para o “empreendedorismo”, educação e qualificações, sistema educacional (educação básica e superior de qualidade), educação direcionada para formar indivíduos capazes de perceberem, darem rápidas respostas às transformações geradas pela tecnologia, formar pessoas aptas a atuarem como agentes de mudança para fazer frente aos desafios gerenciais do próximo milênio, mercado de trabalho, pessoal academicamente bem preparado e trabalhadores altamente qualificados, transportes e meios de acesso às empresas, rede de transporte bem distribuída, mercado financeiro, existência de mecanismo de capital de risco, sistema financeiro público e privado disposto a financiar empresas nascentes e bancos com mentalidade aberta para apoiar a inovação, apoio público e privado, programas governamentais de compra de produtos/serviços, ações de formação patrocinadas por entidades oficiais e mecanismos de incentivo ao surgimento de micro, pequenas e médias empresas.
Os elementos pertinentes ao conjunto de atrativos de um parque de ciência e tecnologia podem ser assim sintetizados: mão de obra qualificada, que esteja sempre renovando seus conhecimentos, tecnologia aplicada, infra-estrutura personalizada, fontes de capital com experiência em operações de capital semente e de risco; consumidores sofisticados e exigentes, cujas necessidades estejam à frente das necessidades dos consumidores de outros locais, fornecedores de máquinas, equipamentos, componentes e serviços que contribuam para a melhoria do produto e do processo de produção e concorrentes diretos da empresa, que motivem o progresso.
Pode-se afirmar que a incubadora, um dos instrumento de ação de um parque de ciência e tecnologia, como sendo um ambiente gerador de novas oportunidades de negócios, não difere muito daquele utilizado por um recém-nascido, quando ele precisa de tratamento especial. Empresas que entram no mercado podem hoje se instalar em ambientes tão protegidos quanto os dos hospitais. No entanto, em ambas as situações, a dose de esforço pessoal para sobreviver é fundamental.
Hoje o empreendedor de empresas de base tecnológica percebe que, como Schumepter em Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942), “a competição que conta é a do novo produto, da nova tecnologia, da nova fonte de suprimento, do novo tipo de organização empresarial. Essa é a competição que resulta na vantagem de custo ou de qualidade. Essa é a competição que atinge não apenas a produção e as margens de lucro das empresas existentes, mas principalmente seus alicerces e a sua própria sobrevivência”.
A revolução na tecnologia de informação e os avanços da biotecnologia deflagraram um inequívoco processo schumpeteriamo de destruição criativa. As tecnologias disponíveis, as técnicas geranciais alternativas, os recursos escassos podem ser combinados em uma infinidade de tentativas empresariais pelos empreendedores.
Podemos concluir, após a leitura deste texto, que o capital e o trabalho serão substituídos, enquanto recursos mais importantes pelo conhecimento  quem tiver a informação terá o poder. E o conhecimento é inesgotável, pelo que toda a teoria econômica, assente na escassez dos recursos, terá de ser revista. É a era do capital intelectual.
A pesquisa e desenvolvimento produzem somente um produto  o conhecimento. Na verdade, trata-se de um conhecimento com um propósito, mas, ainda assim, apenas conhecimento. A pesquisa e desenvolvimento não produzem vendas, rendimentos ou redução de custos. Elas não produzem um produto físico para venda ou um processo operacional. Porém, a pesquisa e desenvolvimento produzem o conhecimento que está nos alicerces de todos esses outros resultados.
Os parques de ciência e tecnologia e as incubadoras de empresas têm um papel determinante ao nível de desenvolvimento regional, na medida em que são importantes "motores" de desenvolvimento científico e empresarial, geradores de emprego, renda, aceleradores ao nível da transferência de tecnologia e geradores de inovação.