sexta-feira, 21 de maio de 2010

DESEMPREGO: UMA ENFERMIDADE EUROPEIA

Vive-se tempos turbulentos na Europa. A Grécia a beira da bancarrota. A taxa de desemprego na Europa é muito mais alta do que no Japão e nos EUA. Se não houver, por parte dos governos dos países que compõem a União Europeia, uma urgente reformulação de suas políticas de proteção social, o problema demorará muito a ser solucionado.
Muitos intelectuais, nos Estados Unidos e Ásia, acreditam que o “estado social” europeu deve ser um modelo nos seus países. Entretanto, estas políticas, para serem financiadas, implicam, geralmente, numa elevada carga tributária sobre as empresas, sendo a principal causa do desemprego no Velho Continente, durante estes últimos 15 anos. Este mal europeu dificilmente pode ser um modelo para ninguém.
A experiência americana demonstra que o crescimento do desemprego europeu não se deve só a um aumento da competência dos países menos desenvolvidos. O rápido crescimento dos custos trabalhistas, em toda a Europa e a falta de uma política consistente de incentivos ao espírito empreendedor, parecem ser as principais causas da explosão do desemprego.
Quase a metade dos custos médios de um posto de trabalho, na França e Alemanha, é destinada à Segurança Social, à saúde, ao seguro desemprego, seguros invalidez e outros impostos. Em quase todos os países europeus, a proporção é similar. As regulamentações que limitam o despedimento e obrigam dar muitos dias de férias também podem ser consideradas como um fator que contribui para a elevação dos custos do emprego.
A elevada carga tributária, imposta pelos governos europeus, fomenta o crescimento de uma economia subterrânea. Segundo algumas estimativas, 25 por cento dos trabalhadores espanhois – amargam uma taxa de quase 20 por cento de desemprego - e italianos ganham alguma coisa que não aparece em nenhum tipo de contabilidade. Na Bélgica, França, Alemanha e Suécia, onde o trabalhador é cada vez mais caro para empresa despedi-los, está tornando-se uma tarefa muito difícil, as empresas relutam muito em aumentar seus quadros de colaboradores.
Diante deste quadro, neste momento custa muito mais encontrar um posto de trabalho do que há dez anos atrás. Ademais, na União Europeia, o emprego no sector privado quase não tem crescido, quase todo crescimento de empregos se dá no setor público. Ao contrário do Japão e EUA, onde tem ocorrido justamente o inverso: o emprego em empresas privadas, principalmente nas micro, pequenas e médias empresas, tem crescido mais do que nas públicas.
Os desempregados de longa duração, os jovens que nunca têm obtido um emprego estável, os empregados temporários e os empregados na economia subterrânea têm poucas oportunidades de investir em sua formação. Na Europa, cada vez mais há indivíduos enquadrados neste perfil, o que implica no aumento dos trabalhadores que não têm acesso a um processo de formação adequada. Isto, por sua vez, reduz cada vez mais suas possibilidades de encontrar trabalhos estáveis.
A presença na Europa de um generoso “estado social”, um estado social com um amplo leque de benefícios e uma pesada carga de regulamentações, que chegam mesmo a sufocar e em determinados casos abafam, matando no seu nascedouro as iniciativas de criação de empresas e o próprio espírito empreendedor.
A morte do espírito empreendedor - a falta de incentivo ao desenvolvimento do empreendedor entre os europeus, a pouca ou quase nenhuma existência de entidades vocacionadas para a concessão de capital de riscos às empresas de alta tecnologia, podam pela raiz as iniciativas de criação de micro, pequenas e médias empresas dinâmicas, as quais já são responsáveis por mais de 66 por cento de todo emprego na comunidade econômica europeia e pode ser a grande fonte de absorção de indivíduos que estão sendo demitidos pelas grandes empresas.
As barreiras burocráticas levantadas na Europa, entravando os processos de criação de empresas, são as maiores responsáveis pela situação de desemprego e não o avanço tecnológico. É a falta de incentivo, apoio ao espírito empreendedor que vem gerando toda essa crise de inexistência de empregos no velho continente. Para vencer o desafio de se implantar empreendimentos inovadores, com forte base tecnológica, a comunidade econômica europeia tem instituído várias iniciativas que visam incentivar os empreendedores do velho mundo.
O espírito empreendedor europeu está sufocado pela malha burocrática que inibe sua capacidade de iniciativa. Tem de enfrentar barreiras erguidas para a manutenção do status quo e mantendo estes indivíduos cada vez mais distantes dos seus objetivos de realização pessoal, através da criação de seu próprio empreendimento.
Ao invés de celebrar a figura do empreendedor, parece que a sociedade europeia vê-lo com uma certa dose de suspeita. Pesquisa de opinião, na Escócia, revelou que os empreendedores estão abaixo dos motoristas de autocarros, na lista das atividades profissionais mais admiradas.
Gradualmente, contudo, muitos europeus estão reconhecendo a importância de criar um novo clima de apoio aos empreendedores de empresas de base tecnológica. A razão é muito simples: a necessidade de novos postos de trabalho. O maior problema europeu é a criação de novos empregos, principalmente os que agregam valor.
A resposta a este desafio passa pela união de esforços entre o sector governamental, sindicatos, universidades, institutos de investigação e empresas de capital de risco para instituírem programas de incentivos ao surgimento de empresas de base tecnológica, aproveitando as vocações regionais de cada país envolvido neste tipo de ação.
As organizações estão diminuindo de tamanho, tentando encontrar fórmulas de produzir mais, com menos empregados. A solução de curto, médio e longo prazo para o fim do emprego por toda vida é a conscientização de que, daqui para frente, haverá uma maior necessidade de os indivíduos colocarem em prática uma postura totalmente diferente do que vinha sendo adptado até pouco tempo atrás - formavam-se e tinham várias propostas de colocação, hoje é de capital importância a habilidade - criar seu próprio emprego. É preciso implementar medidas com as que são sugeridas abaixo:

>> promover investimento: as “empresas nascentes europeias necessitam capital semente e de risco. Mecanismos de crédito e incentivos fiscais podem ser colocados à disposição dos empreendedores;
>> apoiar a livre circulação de ideias: universidades europeias poderiam prestar consultoria na área tecnológica e gerencial, quando da montagem do projeto empresarial, bem como permitir o acesso dos empreendedores aos seus laboratórios de pesquisa;
>> alterar a legislação trabalhista: pesados encargos laborais e regras muito rígidas de contratação e demissão são responsáveis por elevadas despesas para as pequenas empresas, que reclamam uma urgente mudança nesta situação;
>> celebrar empreendedores: a Europa precisa passar a apoiar iniciativas ligadas ao espírito empreendedor. As universidades deveriam introduzir em seus cursos disciplinas relacionadas com o empreendedorismo, as escolas de negócio necessitam, urgentemente, implantar mais cursos de empreendedorismo; a imprensa dedicar mais atenção ao tema.
Mecanismos de apoio, tipo capital semente ou mesmo de risco, poderiam ser colocados à disposição dos empreendedores com ideias promissoras, para iniciarem empreendimentos de base tecnológica, em lugar de somente incentivar as empresas já existentes.
O brilho e carisma podem servir até certo ponto. Todavia, poucos empreendedores alta tecnologia aprendem a gerenciar, com competência, seus empreendimentos. Os empreendedores de alta tecnologia lutam para encontrar a tão almejada fórmula gerencial que os leve ao sucesso. Afirmam que muitos empreendedores procuram mirar-se numa Microsoft, num Google empresas de sucesso nesta área.
Uma coisa está clara: não basta só ter o espírito empreendedor, conhecer, dominar a tecnologia, ter capital e bastante entusiasmo. Os conhecimentos das práticas administrativas básicas, especialmente em áreas - chave do negócio, como mercado e finanças, são muito importantes para o sucesso do empreendimento, quer seja de alta tecnologia ou não. Os empreendedores de alta tecnologia são tipicamente jovens, inteligentes, dedicados, arrogantes. Entretanto, poucos deles possuem as habilidades gerenciais para dirigir, uma empresa de base tecnológica que requer, muitas vezes, uma capacidade de gestão, na fase inicial do projeto, muito acima do normal. É necessário entender que :

>> o empreendedor deverá compreender que um produto de tecnologia, por mais interessante e inovadora que seja , não se venderá por si só. Normalmente terá que seguir uma estratégia de penetração no mercado para sobreviver.
>> planejamento - para se ter continuidade e expansão é essencial dispor de um plano a longo prazo razoável, que inclua uma estratégia de produto, revisando-o, atualizando-o continuamente.
>> habilidade - em lidar com pessoas. Esta é possivelmente a área mais difícil em um empreendedor típico. Entretanto, esta habilidade de se relacionar bem com outros indivíduos e conseguir atrair e manter na empresa pessoas capazes são atributos chaves no sucesso de qualquer empreendimento.
>> controle - sistemas de acompanhamento, especialmente na área financeira, são vitais.

Um comentário:

  1. Esse post representa de uma forma muito fiel a realidade atual na Europa. Eu conheço duas espanholas que já estão aprendendo português para tentarem conseguir trabalho aqui no Brasil. Ambas formadas, uma em Administração de Empresas (cursando um mestrado em Marketing) e a outra em Engenharia. Elas comentaram que como a Espanha possui uma das maiores taxas de desemprego da zona do euro, está cada vez mais difícil conseguir um bom emprego por lá, além disso, a competição por boas posições nas empresas é intensa e altamente qualificada, isso dificulta ainda mais.

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