domingo, 27 de fevereiro de 2011

EXPLOSÃO EMPREENDEDORA: EMPREENDEDORISMO + INOVAÇÃO + CAPITALISMO

O capitalismo está em uma encruzilhada e precisa de reformas profundas para que possa sobreviver. As empresas que terão êxito no século 21 serão capitalistas construtivos-companhias que não causam danos à sociedade, não geram resíduos, desenvolvem produtos a partir da demanda dos consumidores e vendem itens de alta necessidade e baixo custo.
É o que defende o economista norte-americano e colaborador da "Harvard Business Review" Umair Haque, 34, no recém-lançado livro "The New Capitalist Manifesto" (O Novo Manifesto Capitalista) - que ele próprio define como "um manual" para um futuro melhor.
O termo capitalismo não tem uma definição consensual. Podemos afirmar, no entanto, que mercados de muitas formas e estruturas existem há centenas de anos, e a atividade capitalista, há séculos.
O capitalismo não é um sistema estático; ele varia em lugares e épocas diferentes e se tem mostrado extraordinariamente adaptável e elástico, em resposta a pressões políticas e sociais divergentes. Entretanto, alguns atributos parecem ser necessários sem, contudo, serem suficientes.
Entre eles, está o capital, mercados, organização comercial, a capacidade empreendedora. Essas condições surgiram no Ocidente, antes que outras partes do mundo e desataram o boom econômico que se prolongou até uma crise que atingiu basicamente os países mais industrializados, no mais impressionante período atual de mudança econômica, que podemos chamar de empresas capitalistas construtivos-companhias.
Não pode haver capitalismo sem capital, o acúmulo e utilização de recursos com objetivos de investimentos produtivos. O capitalismo pressupõe a superação, até certo ponto, da escassez e a aceitação pelo sistema de valor da sociedade de que os recursos resultarão na criação de instrumentos-agrícolas, industriais e comerciais, cuja recompensa virá no futuro.
Não somente deve haver capital para que o capitalismo deslanche, mas, esses mercados precisam ser guiados, até certo ponto, pela lei da oferta e da procura, ou pelo mecanismo custo-preço.
Os mercados que tentam ignorar essas considerações inevitavelmente criam tantas distorções e imperfeições que a produtividade pode, eventualmente, ser revertida. O planejamento econômico, rigidamente mantido, é o exemplo óbvio corrente.
A organização empresarial é outra necessidade para o nascimento do capitalismo. A burocracia racional (mas não necessariamente hierárquica), o passivo limitado e o gerenciamento feito por profissionais são algumas das necessidades básicas, como também o é a obtenção do lucro. Diferentes sociedades definem cada um desses conceitos à sua maneira, e existem muitas ramificações dessas variações.
O empreendedor imaginado por Joseph Schumpeter era o indivíduo romântico que inovou com um novo meio de produção ou transporte, uma habilidade de marketing, ou uma nova combinação desses fatores.
A mola propulsora do capitalismo é o empreendedor. O capitalismo não funciona bem, sem a figura do empreendedor e um sistema de valores que aceite as recompensas do materialismo como vantajosas e desejáveis.
A relação entre liberdade civil e política e crescimento econômico é o mais tênue e difícil de definir dos elementos que sustentam o capitalismo, desde que, no início do século 17, o filósofo inglês John Locke incluiu a propriedade, junto com a vida e a liberdade.
Como direitos inalienáveis, essas liberdades desempenharam um grande papel no capitalismo. Mas há muitas culturas que definem a liberdade em termos diferentes da sociedade ocidental. O confucionismo, por exemplo, vê a liberdade individual num contexto de profunda responsabilidade para com a família e a comunidade.
Tendo enfocado os elementos necessários para o desenvolvimento do capitalismo, vamos nos voltar para uma consideração sobre as três revoluções industriais que impulsionaram, ainda mais, o capitalismo, e sobre as transformações sociais que essas revoluções suscitaram - e ainda suscitam.
Pela primeira vez na história do homem, iniciou-se um processo que eliminou o problema da escassez em sociedades que tinham os meios e queriam correr o risco do impacto dessas mudanças.
“Em menos de 100 anos de domínio, escreveu Karl Marx, “a burguesia da Revolução Industrial” criou forças produtivas mais poderosas e colossais que todas as gerações precedentes juntas”.
Os ricos ficaram mais ricos - alguns se tornam imensamente abastados-, mas os pobres ficaram mais ricos também, principalmente com a proliferação de bens essenciais públicos, como a água pura, a remoção de despejos e águas servidas de esgotos, e mais alimentos
George Eastman, o fundador da Eastman Kodak, concebia o mundo como seu mercado e todos os indivíduos nele como dignos de uma câmara Kodak. Henry Ford incentivou o aumento de salário de US$ 5 por dia - para que seus operários pudessem comprar seu automóvel Modelo T.
A Segunda Guerra Mundial mostrou a enorme capacidade produtiva de um sistema capitalista livre, orientado para o lucro e nas mãos da iniciativa privada.
Os Estados Unidos produziram mais materiais bélicos do que quaisquer outras duas potências combinadas. E o período do pós-guerra inaugurou uma era de crescimento real, nos Estados Unidos e no resto do Mundo Livre, única na História.
As economias planificadas do mundo socialista e comunista, com seus preços determinados politicamente, nunca lograram sucesso.
Nem a Primeira nem a Segunda Revolução Industrial foram sensíveis ao meio ambiente do planeta. Para elas, o oceano era suficientemente grande e profundo para receber todos os nossos refugos - o lema era jogar fora!
Além disso, a terra era, com freqüência, selvagemmente explorada; o ar e a água, de acordo com a teoria econômica clássica, eram de proteção ambiental, o capitalismo e seu resultante crescimento econômicos autoritários e não-democráticos.
No entanto, a maioria dos especialistas de hoje acha que o mecanismo preço-custo da economia tradicional é insuficiente para definir os custos reais para a sociedade, dos abusos ambientais.
As revoluções econômicas não nascem de eventos ou atos isolados. As empresas capitalistas construtivos-companhias, que só agora está ganhando força, nasceram, pouco a pouco, dos laboratórios do mundo ocidental.
Antes do surgimento do conceito de empresas capitalistas construtivos-companhias, o mundo era dominado por uma ortodoxia de gerenciamento convencional. Administradores e engenheiros se encaixavam confortavelmente num sistema de múltiplas camadas de organização hierárquica, que dominava o mundo capitalista.
A visão de empresas capitalistas construtivos-companhias abrange o mais poderoso conjunto de mudanças na história moderna, eclipsando todas as experiências anteriores na vida econômica. E é real e irreversível: continuará ganhando ímpeto, devido à sua base de conhecimentos científicos, e afetará nossas vidas, pelo próximo meio século ou mais.
Certas áreas e impactos deste monumental happening global já são de nosso conhecimento, mas não podemos vislumbrar ainda a maioria das mudanças. Os aspectos científicos e tecnológicos, frutos das empresas capitalistas construtivos-companhias, são fáceis de descrever.
A internet interliga computadores a uma maciça rede paralela de computação que vem fazendo explodir os três C´s – computadores, comunicação e conteúdo.
Na outra extremidade do espectro, o computador pessoal e o portátil dão ao indivíduo um poder computacional nunca imaginado. O custo continua a declinar em função de intensa competição.
A maioria das novas drogas preservadoras da vida, e muitas outras que se encontra em fase de testes, foram desenvolvidas a partir do novo conhecimento baseado na decifração do código do DNA. É a biotecnologia.
Ao avançarmos na aplicação da visão empresas capitalistas construtivos-companhias, defrontamo-nos com incógnitas, nas relações econômicas, políticas e sociais. É pouco provável que muitas de nossas instituições permaneçam inalteradas; o capitalismo, que já passou por muitas mudanças em sua existência, colherá novas e consideráveis transformações.
Podemos vislumbra um cenário no século XXI no qual podemos ver o papel econômico de uma nação como o de melhorar o padrão de vida dos cidadãos ao elevar o valor do que eles contribuem para a economia mundial.
Destacamos que a competição será em nível internacional. “Com dinheiro, tecnologia e ideias fluindo facilmente através das fronteiras, e empregos sendo oferecidos onde possam ser realizadas mais eficientemente, essas forças inexoráveis do capitalismo mundial estão levando as empresas a perder suas identidades nacionais”.
O que podemos racionalmente esperar? A perspectiva das empresas capitalistas construtivos-companhias traz consigo uma era de incerteza permanente. Os produtos terão vida mais curta, a despeito do custo crescente do lançamento de novos itens no mercado.
Empresas e governos terão de escolher áreas selecionadas para pesquisa e desenvolvimento; ninguém poderá dispor de tudo, nem mesmo as multinacionais mais ricas, ou os países mais abastados. Veremos uma proliferação de “joint venture”.
À luz da esmagadora autodestruição das economias centralizadas comunistas, o capitalismo, com sua eficiente alocação de recursos, se espalharam. A empresa capitalista construtivo-companhias precisa de competência para se firmar no mercado, e os políticos e indivíduos terão de escolher para estilos de vida de riqueza superficial e as políticas necessárias para gerar uma sociedade rica e produtiva.
A empresa capitalista construtivo-companhias provavelmente produzirá mais mudanças e riquezas do que a raça humana já conheceu, mas nos desafiará a não esquecer a fragilidade de nosso planeta.
Sociedades sem um exigente sistema educacional e uma forte ética de trabalho não conseguirão atender as exigências deste mundo espantoso. Para alguns, a nova era trará ganhos enormes, mas esta grande oportunidade deve beneficiar todas as pessoas ou levar ao fracasso a experiência humana

Um comentário:

  1. Caro professor Emanuel,
    Surpreendo-me sempre que leio vossos textos. Eles trazem sempre o novo, o atual e me remetem a algumas aulas que tive no RS com também grandes professores que buscavam, como você, trazer para o meio acadêmico, o mais novo em suas áreas.
    Interessante o que um economista (Umair Haque) defende para o capitalismo moderno. Parece “coisa” nova, mas não podemos deixar de lembrar das práticas sócio-ambientais das quais as empresas já estão com grande foco. Talvez seja algo um pouco além deste tema (vou precisar pesquisar mais sobre o assunto), mas gostaria de deixar registrado que “nunca antes na história deste país” parafraseando um de nossos presidentes, se ouviu tanto falar em meio-ambiente e consciência ecológica. Também nunca se viu tantas atrocidades contra este nosso planeta. Espero efetivamente que a consciência entre na consciência e o escrito, saia do papel e se torne nossa realidade.
    Um grande abraço. Junior.

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